segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O Dono da História - Paulo Coelho




Paulo Coelho mudou de vida quando percorreu pela primeira vez o Caminho de Santiago, na Espanha, em 1986. Antes disso, viveu como hippie, viajou pelo mundo, internou-se por imposição dos pais numa clínica psiquiátrica, flertou com a magia negra, virou roqueiro, produziu frases rebeldes em parceria com Raul Seixas, conheceu os porões da ditadura, foi preso e torturado durante o regime militar. 

A experiência na Espanha o levaria a escrever “O Diário de um Mago'' e “O Alquimista”. Os dois livros viraram best-sellers, mataram o hippie e lançaram um dos maiores vendedores de livros do planeta. As obras de Paulo Coelho, divulgadas sobretudo em recomendações boca a boca, explodiram nas listas de mais vendidos, na contramão da acidez dos críticos brasileiros. Paulo tornou-se o centro de uma polêmica: faz livros de ficção ou de autoajuda? Pouco importa. As histórias conquistaram uma legião de fãs anônimos e famosos. Na segunda categoria cintilam Madonna, Julia Roberts e Isabelle Adjani. Fato notável em sua vida foi o de ter sido o primeiro escritor não muçulmano que visitou o Irã desde a revolução islâmica de 1979
. 
Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, no dia 24 de Agosto 1947, no seio de uma família de classe média, filho de Pedro, engenheiro, e de Lígia, dona de casa de fortes crenças católicas. Aos sete anos ingressou no colégio jesuíta de Santo Inácio, no Rio de Janeiro, experiência que despertou nele um ódio pela prática religiosa dogmática e obrigatória. Embora não suportasse rezar nem ir à missa, foi nos corredores do colégio que descobriu a sua vocação de escritor. Ganha o seu primeiro prêmio literário num concurso de poesia da escola. 

Os pais de Paulo, esperando que ele venha a ser engenheiro, desencorajam a sua dedicação à leitura. Paulo começa a desafiar as normas estabelecidas pela família. O seu pai interpreta o comportamento como um sintoma de doença mental e, quando Paulo tem apenas dezessete anos, interna-o duas vezes num hospital psiquiátrico, onde o submetem a terapia de eletrochoque. 

O prontuário da primeira internação descreve em detalhes o comportamento do adolescente: ''Segundo o pai, o paciente vem apresentando modificações psicológicas, principalmente no que se refere à conduta. Tornou-se agressivo, irritável, hostilizando abertamente os genitores. Até politicamente mostra-se contrário aos pais. Na escola, vem decaindo progressivamente e fala em largar os estudos''. Um comportamento que a maioria dos pais resolveria hoje cortando mesadas ou dando castigos. O médico Benjamim Gomes diagnosticou como uma ''anomalia de personalidade que trazia latente a possibilidade de Paulo se tornar um esquizofrênico''. 

Trinta anos depois de ter passado por estas experiências, Paulo Coelho revive-as ao escrever Veronika Decide Morrer 



Passado este período difícil, Paulo começa a estudar Direito, mas pouco tempo depois abandona os estudos para dedicar-se ao teatro e ao jornalismo. Sua trajetória como autor inclui trabalhos em jornais, roteiros para curtas-metragens, direção cênica e composição de canções. 

Vive-se a década de sessenta, e o mundo inteiro assiste à explosão da revolução hippie. No Brasil, apesar da repressão da ditadura militar, fazem-se sentir as novas tendências. Paulo usa o cabelo comprido e anda sem identificação, numa atitude de desafio à autoridade. Experimenta drogas durante algum tempo, querendo viver a experiência hippie com a maior intensidade possível. A sua paixão pela escrita leva-o a fundar uma revista literária da qual são publicados apenas dois exemplares. 

Nesta altura, conhece Raul Seixas e começa a escrever as letras das suas canções. O segundo disco da dupla alcança um sucesso espantoso, chegando a vender mais de 500 000 cópias; é a primeira vez que Paulo ganha muito dinheiro com o trabalho artístico. Até 1976 cria mais de sessenta músicas com Raul - juntos revolucionam o panorama do rock brasileiro. 

Em 1973, a dupla ingressa na Sociedade Alternativa, uma organização que se opõe à ideologia capitalista, defende a liberdade a todos os níveis e está associada à prática da magia negra. Paulo Coelho falará mais tarde destas experiências em As Valquírias. Neste período, o regime ditatorial considera-a uma ameaça e os dois são presos. Raul é libertado pouco tempo depois, mas Paulo fica encarcerado durante mais tempo por ser considerado o ''cabeça'' do grupo. Ele é torturado durante dias. O que o salvou de ser assassinado, diz, foi o fato de ter alegado estar louco, usando, para o confirmar, o seu internamento em hospitais psiquiátricos. Esta experiência marca-o profundamente. Decide, então, aos vinte e seis anos, ser ''normal''. Consegue um emprego na editora discográfica Polygram, onde conhece a primeira mulher com a qual se casaria.




Leia na Integra:   Biografia: A vida e a obra de Paulo Coelho/ Revista Época


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